Natimorto
Em qualquer parte do mundo, a ocorrência de um natimorto é um evento profundamente doloroso e um indicador sensível da qualidade da assistência à saúde materna e infantil.
Um natimorto (ou morte fetal intrauterina) refere-se à morte de um feto no útero materno após um determinado período gestacional. A definição exata desse período pode variar ligeiramente entre países e organizações de saúde, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) geralmente define a natimortalidade como a morte fetal com 22 semanas completas de gestação (ou 154 dias) ou mais, ou um peso fetal de 500 gramas ou mais, quando a idade gestacional é desconhecida.
É fundamental diferenciar o natimorto de um aborto espontâneo, que geralmente se refere à perda fetal antes das 22 semanas de gestação.
Causas da Natimortalidade
As causas da natimortalidade são diversas e, muitas vezes, multifatoriais, nem sempre sendo possível identificar uma causa única. Elas podem ser classificadas em:
Complicações da Placenta e Cordão Umbilical:
Insuficiência placentária: A placenta não consegue fornecer oxigênio e nutrientes suficientes para o feto.
Descolamento prematuro da placenta: A placenta se separa do útero antes do parto.
Anomalias do cordão umbilical: Nódulos, compressão, prolapso ou vasos anormais.
Condições Médicas Maternas:
Hipertensão (especialmente pré-eclâmpsia e eclâmpsia): Pressão alta durante a gravidez.
Diabetes (gestacional ou pré-existente): Níveis elevados de açúcar no sangue.
Infecções maternas: Como sífilis, rubéola, toxoplasmose, infecções urinárias ou vaginais não tratadas, parvovírus B19, citomegalovírus e, mais recentemente, COVID-19.
Doenças autoimunes: Como lúpus.
Trombofilias: Condições que aumentam a coagulação do sangue, formando coágulos na placenta.
Uso de substâncias: Tabagismo, álcool, drogas ilícitas.
Anomalias Congênitas e Genéticas do Feto:
Malformações graves que são incompatíveis com a vida.
Anomalias cromossômicas.
Complicações do Trabalho de Parto e Parto:
Dificuldades durante o parto que levam à falta de oxigenação fetal.
Causas Inexplicáveis (ou Idiopáticas):
Mesmo com investigações completas, uma causa específica não é encontrada em uma parcela significativa dos casos (especialmente quando não há autópsia fetal e placentária).
Fatores de Risco
Alguns fatores aumentam o risco de natimortalidade:
Idade materna avançada (acima de 35 anos) ou muito jovem.
Obesidade materna.
Tabagismo, uso de álcool e drogas durante a gravidez.
Gravidez múltipla (gêmeos, trigêmeos).
Histórico de natimorto em gestação anterior.
Doenças crônicas maternas não controladas (diabetes, hipertensão).
Acesso limitado ou inadequado ao pré-natal.
Desigualdades socioeconômicas (pobreza, baixa escolaridade).
Impacto e Abordagem
A natimortalidade tem um impacto devastador na família, causando luto, dor emocional profunda e, por vezes, sentimentos de culpa. Para os profissionais de saúde, é um evento desafiador que exige sensibilidade e suporte adequado.
A abordagem de um caso de natimorto envolve:
Comunicação Sensível: Informar os pais de forma empática e oferecer apoio psicológico.
Investigação da Causa: Se possível e com o consentimento dos pais, realizar exames (como autópsia fetal, exame da placenta, cariótipo) para tentar identificar a causa, o que pode ajudar a planejar futuras gestações.
Manejo Obstétrico: O parto (indução ou cesariana) deve ser planejado cuidadosamente, considerando a saúde materna e o desejo dos pais.
Apoio Psicossocial: Oferecer suporte psicológico e encaminhamento para grupos de apoio ou terapia, fundamental para o processo de luto.
Aconselhamento para Futuras Gestação: Com base nos resultados da investigação, fornecer informações sobre riscos e estratégias para gestações subsequentes.
Natimortalidade em Salvador e no Brasil
A taxa de natimortalidade é um importante indicador de saúde materno-infantil. No Brasil, e em cidades como Salvador, essa taxa é monitorada pelos sistemas de vigilância epidemiológica (como o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC, e o Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM).
A redução da natimortalidade é um objetivo da saúde pública, e as estratégias para alcançá-la estão alinhadas com as políticas de melhoria do pré-natal, acesso a exames e tratamentos adequados para as gestantes, controle de doenças crônicas maternas e prevenção de infecções. O fortalecimento da atenção primária à saúde e do cuidado obstétrico qualificado são fundamentais nesse sentido.
Em Salvador, as equipes de saúde buscam identificar gestantes de alto risco precocemente e garantir que elas recebam o acompanhamento especializado necessário para tentar prevenir desfechos como a natimortalidade.
A perda de um bebê natimorto é uma tragédia que, embora tenha diminuído em muitos lugares com o avanço da medicina, ainda é uma realidade que exige atenção e cuidado integral das equipes de saúde.
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